Nos últimos 12 meses, mais de cem bebês prematuros receberam alta da unidade neonatal da maternidade Dr. Moura Tapajóz, da Prefeitura de Manaus. Rayana Melissa faz parte dessa estatística. Ela nasceu em 26 de junho 2023, com 24 semanas e três dias, pesando apenas 495 gramas, prematuridade considerada extrema, e recebeu alta neste mês de novembro, com 2.445 quilos, após quatro meses e 11 dias de internação.
A prematuridade extrema ocorre quando o bebê nasce com menos de 28 semanas de gestação. Já a considerada tardia, acontece entre 34 e 36 semanas e seis dias. Porém, sem um acompanhamento especializado, ambas as situações podem trazer consequências para a criança.
A mãe de Rayana Melissa, Heloane Gama, conta que o período de internação foi um processo muito angustiante, em razão de todas as adversidades enfrentadas por conta do nascimento prematuro.
“Minha filha é um milagre. Fui internada com 23 semanas de gravidez e conseguimos manter a Rayana na barriga até a 24ª semana. Ela nasceu e precisou ser reanimada. Foi um período muito difícil, o pior da minha vida, de muito temor pela vida da minha filha, vê-la tão pequenininha, tão frágil, mas a equipe da Moura me apoiou em todos os momentos. Quero agradecer a Deus e a todos da Moura Tapajóz, da UTI, da UCI, do Canguru, porque se não fosse por vocês minha filha não estaria aqui comigo agora, um sonho que parecia tão distante. Serei sempre grata”, disse.
Prematuros
A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil antes dos cinco anos de idade no mundo. Segundo informações da Organização Não Governamental (ONG) prematuridade.com, o Brasil é o décimo país no ranking mundial de nascimentos prematuros e, em 2021, eles representaram 11,8% dos nascimentos. Na região Norte, esse percentual sobe para 14,1%. O município de Manaus, no entanto, apresentou uma redução de 8,75% em 2020, para 8,25% em 2021, no mesmo período, números bem abaixo da média nacional.
No Dia Mundial da Prematuridade, celebrado nesta sexta-feira, 17 de novembro, a Moura Tapajóz ressalta a importância do contato pele a pele entre os bebês e seus pais ou cuidadores responsáveis. “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares” é o tema global do Dia Mundial da Prematuridade e do Novembro Roxo deste ano.
O Dia Mundial da Prematuridade e a campanha “Novembro Roxo” objetivam sensibilizar e alertar as famílias e toda sociedade sobre o crescente número de partos prematuros, sobre como preveni-los e informar a respeito das consequências para o bebê do nascimento antecipado.
Nesta sexta-feira, 17/11, as enfermeiras da MMT Jucilene Santos e Maria Alice Santos realizarão, no período da tarde, uma roda de acolhimento e conversa com as mães do albergue da MMT sobre o tema prematuridade. Já na quarta-feira, 22/11, a maternidade terá uma programação mais extensa pela manhã, com mesa-redonda sobre o tema “Desafios da Implementação do Contato Pele a Pele na Cesariana” e palestra sobre os “Benefícios do Contato Pele a Pele para a Neuroproteção do Prematuro”.
“Sempre tivemos consciência da importância do contato entre os pais ou cuidadores e os bebês e, por isso, a prioridade em nossa unidade, como Hospital Amigo da Criança que somos, sempre foi a separação zero e o contato pele a pele”, destacou a enfermeira obstetra Núbia Cruz, diretora da MMT. “No caso dos bebês recém-nascidos prematuros e de baixo peso, esse contato é ainda mais vital, pois reduz o risco de sepse neonatal”, explicou a diretora.
Estudo recente conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com mais de 3,2 mil recém-nascidos e publicado no periódico “eClinicalMedicine” – parte do The Lancet Discovery Science, indicou que iniciar o método canguru assim que o bebê nasce – mesmo antes de atingir um quadro estável – fornece aos recém-nascidos prematuros e com baixo peso a melhor proteção contra infecções graves. A posição canguru consiste em manter o recém-nascido de baixo peso ligeiramente vestido, na posição vertical, contra o peito do pai, da mãe ou do cuidador responsável.
As vantagens do método são o aumento do vínculo mãe-filho, menor tempo de separação entre os dois, estímulo ao aleitamento materno, maior competência e confiança dos pais nos cuidados ao filho de baixo peso, menor número de recém-nascidos em unidades de cuidados intermediários, melhor relacionamento da família com a equipe de saúde, diminuição da infecção hospitalar e menor permanência hospitalar.
Durante o período de internação, Rayana Melissa apresentou complicações inerentes à prematuridade extrema, como desconforto respiratório que evoluiu para uma sepse tardia, injúria renal aguda, anemia com necessidade de hemotransfusões e retinopatia da prematuridade, distúrbio no qual os pequenos vasos sanguíneos no fundo dos olhos (retina) do bebê prematuro crescem de maneira anômala, mas, depois de uma cirurgia a laser bem sucedida realizada na própria maternidade e após receber atendimento de forma integral dos profissionais da unidade hospitalar, foi liberada para ir para casa pela primeira vez saudável e em aleitamento materno exclusivo. Rayana segue em acompanhamento ambulatorial da 3ª etapa do Canguru e Follow-up na própria maternidade e quinzenal com oftalmologista.
Segundo a médica neonatologista Paula Célia Dias Menezes, na Moura Tapajóz, aproximadamente 15% dos partos realizados são prematuros. “Felizmente, aqui na nossa unidade, estamos preparados e temos uma equipe altamente qualificada, possibilitando uma boa assistência, tanto às mães quanto aos bebês. A prematuridade demanda uma entrega muito grande, não só da equipe médica, de enfermagem, de fisioterapia e fonoaudiologia, como também, e principalmente, das mães dos bebês prematuros”, explicou Paula. “Assim que Heloane se sentiu segura, iniciamos o contato pele a pele, mesmo com a bebê ainda em ventilação mecânica invasiva, e isso foi de extrema importância para a recuperação da Rayana”, relatou a médica.
Entre as principais causas obstétricas para a prematuridade, estão a hipertensão materna, a diabetes gestacional e a pressão alta ou pré-eclâmpsia. Outros fatores também podem levar ao parto prematuro, como o hábito de fumar, o consumo de álcool, drogas, estresse, infecções do trato urinário, sangramento vaginal, obesidade, baixo peso e distúrbios de coagulação.
Moura Tapajóz
No caso dos bebês prematuros, a Moura Tapajóz disponibiliza um alojamento exclusivo para acolher as mães dos bebês internados na UTI Neonatal da unidade. O alojamento, conhecido como albergue, garante uma maior qualidade na atenção às mães que, no período delicado do pós-parto, precisam permanecer na maternidade para acompanhar seus recém-nascidos internados.
Após receber alta da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin), o bebê prematuro nascido na MMT ainda passa pela Unidade de Cuidados Intermediários Convencionais (UCINCo) e, só então, finalmente, segue para a Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (UCINCa), antes de ir para casa.
O cuidado com o bebê que nasce prematuro de risco segue após a alta hospitalar, com a continuidade do cuidado do prematuro de risco, até os dois anos de idade, no ambulatório Follow-Up, visando garantir intervenções imediatas, caso se mostrem necessárias.
Doação de leite humano
Os bebês prematuros são os principais receptores do leite humano doado à maternidade Dr. Moura Tapajóz.
“No caso de Rayane, ela se alimentava por dieta enteral, recebendo tanto leite da própria mãe, retirado à beira do leito, quanto leite humano pasteurizado, fruto de doações. Muitas vezes, as mães de bebês prematuros não conseguem amamentar ou sequer produzir leite para extração. E o leite humano é o melhor alimento para qualquer criança e fundamental para os bebês que estão doentes, principalmente os internados nas UTIs neonatais. Então, as doações podem literalmente salvar vidas”, destacou Núbia Cruz.
Toda mulher saudável que esteja amamentando pode ser voluntária e ajudar a salvar a vida de vários recém-nascidos, inclusive aquelas que não tiveram seus filhos na Moura Tapajóz.
A doação deve ser agendada, via WhatsApp (92 99240-8080), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, pois a Moura Tapajóz dispõe de um automóvel que vai até a casa das doadoras, às terças e quintas-feiras, também das 8h às 17h, buscar o leite doado e entregar novos kits esterilizados para as doações futuras. Lembrando que a doação também pode ser agendada para ser feita, presencialmente, na sede da maternidade (avenida Brasil, n° 1.335, bairro Compensa 1), para aquelas mulheres que assim preferirem.
Fonte: Semsa
Foto: Divulgação