Uma das pautas abordadas durante o webinário “Estratégias de reabilitação para centros históricos: estudos de caso”, organizado pelo Programa Internacional de Cooperação Urbana e Regional América Latina (Iurc-LAC), realizado nesta quinta-feira, 24/2, foi o desafio de trazer o rio para o Centro e o Centro para as pessoas. A Prefeitura de Manaus tem um termo de cooperação com o Iurc.
As cidades de Manaus, Nápoles (Itália), e Cienfuegos (Cuba) apresentaram ações estratégicas de regeneração urbana durante o evento virtual, que se debruçou sobre a crise dos centros urbanos, que se agravou especialmente com a pandemia da Covid-19.
O material ficará disponível no canal do Iurc no YouTube, podendo ser acessado posteriormente, tão logo a edição do conteúdo seja finalizada pelo programa.
Explanação
A apresentação de Manaus fez um apanhado histórico da capital, cuja área urbana é de 427 quilômetros quadrados, trazendo mapas da mancha urbana de ocupação e dos eixos estruturantes de transporte e infraestrutura em contraponto ao crescimento da população para fora desta região, seguindo um fluxo diferente. “A cidade cresce ainda espraiada, horizontalmente e sem preencher os vazios urbanos nas regiões onde se tem melhor infraestrutura”, explica o arquiteto e urbanista Leonardo Normando, coordenador de programa no Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb).
Os mapas de densidade exibidos no webinário revelam uma grande ausência da função residencial no centro de Manaus, evidenciando o caráter mais comercial e de serviços do bairro, onde há naturalmente um esvaziamento a partir das 16h, numa região que tem valorização de imóveis e infraestrutura urbanística.
A partir deste problema, a Prefeitura de Manaus tem trabalhado para promover uma melhor ocupação dos espaços públicos e dar maior movimento de pessoas às ruas, o que aumenta a sensação de segurança. Ações para lançar programas urbanísticos de recuperação do papel habitacional das áreas centrais fazem parte das intervenções futuras para o território.
“A prefeitura, com o Implurb, identificou imóveis abandonados ou em situação de subutilização, selecionando os com maior potencial para serem ocupados com habitação social e outros usos”, informa o arquiteto.
A apresentação mostrou ainda que Manaus passou por etapas de grande reordenamento na área central, como na década de 1970, quando a intensa migração provocada pela zona franca acabou criando a chamada “cidade flutuante”. O espaço foi revitalizado e reordenado com as obras que construíram a Manaus Moderna, criando uma frente de orla.
“Agora temos um desafio novo de como ajustar este espaço para que se possa contemplar o rio e equilibrar com a necessidade do comércio e valorização do patrimônio histórico neste entorno”, completa Normando. Este será o desafio de trazer o rio para o Centro e o Centro para as pessoas.
Cases
Durante o webinário, Manaus apresentou cases de sucesso de reordenamento, como foi o caso da avenida Eduardo Ribeiro, que tinha ocupação intensa e obstrução do comércio informal nas suas amplas calçadas. Após a revitalização, em 2013, a amplitude urbana foi melhorada, assim como o ir e vir de forma adequada. A praça da Matriz e a reforma do Casarão da Inovação Cassina também foram outros cases exibidos.
“O poder público vem trabalhando na requalificação da área e muitos investidores privados estão de volta ao Centro, movimentando negócios em razão da melhoria urbanística do sítio histórico. E a prefeitura tem o ‘Nosso Centro’, com intervenções em vários setores para reabilitar o território nos próximos anos”, pontua o urbanista.
Cooperação
Manaus e Nápoles assinaram, em 2021, um termo de cooperação internacional oficializando os trabalhos para acelerar o desenvolvimento urbano em governos com objetivos semelhantes.
As duas cidades-metrópoles têm o webinário conjunto para compartilhar experiências urbanas, arquitetônicas e de patrimônio, com diferentes estratégias e ações voltadas para a preservação dos territórios.
A cooperação internacional tem etapas que envolvem reuniões bilaterais, acordos, missões, troca de informações, expertise compartilhada, webinários e eventos internacionais. As fases incluem missões em ambas as regiões, com visitas técnicas, eventos de networking, ações com especialistas e elaboração de planos de ação regionais e urbanos para as duas participantes.
Financiadas pela União Europeia, as atividades do Iurc dão suporte para atingir objetivos políticos tanto a nível local, quanto relacionados a importantes acordos internacionais sobre desenvolvimento urbano e mudanças climáticas, como a Agenda Urbana, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris.
Articulação
A participação de Manaus é fruto da articulação do Implurb junto à União Europeia. De Nápoles, participam dos trabalhos o gerente de projetos urbanos Nicola Barbato; a arquiteta Francesca Pignataro; a gerente no Brasil para o Iurc, Heloisa Barbeiro; e a líder de cidades Tricia Hackett. Da capital amazonense, os participantes são o diretor-presidente da autarquia, engenheiro Carlos Valente; o vice-presidente, arquiteto e urbanista Claudemir Andrade; o diretor de Planejamento Urbano (DPLA), arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro; o coordenador de projetos, arquiteto Leonardo Normando, e as arquitetas Rejane Gaston e Eloisa Serrão.
Fonte: Implurb
Foto: Divulgação