Depois de quase dois anos fechado por causa da pandemia, o Museu da Cidade de Manaus (Muma) reabre, de forma gradativa e seguindo todos os protocolos sanitários contra a Covid-19, a partir do final da primeira quinzena deste mês, trazendo como bônus à população uma nova ala dedicada ao pintor Moacir Couto de Andrade, um artista multitalentos, escritor, professor que formou gerações de pintores e levou a arte amazonense para galerias e colecionadores do Brasil e do mundo.
O novo espaço é composto de uma antessala e sala principal, onde será instalado o ateliê do artista, que foi doado pela família, para que a população e visitantes conheçam parte do acervo particular e o processo criativo de Moacir Andrade.
O diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, comentou que o museu estaria incompleto se não tivesse um espaço dedicado ao artista. “O mundo conhece Manaus a partir das pinceladas desse grande embaixador da Amazônia, de um artista com muitas facetas e diferentes percepções da realidade do nosso povo, e, nada mais justo, que perpetuar o seu legado. E que esse lugar possa inspirar também uma nova geração de artistas amazonenses”, destacou.
A filha do artista, Gracimoema Andrade, ressaltou que a ideia de doar para o museu público municipal é uma forma de compartilhar o amor às artes que seu pai produziu com tanta paixão e energia. “O acervo que meu pai deixou é o resumo de uma vida inteira de trabalho, de amor pela arte, de um apaixonado pela vida, pelas pessoas, pelo que fazia. Ele gostava de ensinar em praças públicas, era apaixonado pelo Amazonas, por tudo que ele fazia com muito amor”, relatou a filha. Desejamos que esse espaço seja uma forma de dar acesso às novas gerações à obra e à vida desse artista, que dedicou sua existência à sua arte e ao Amazonas.
Ela relembrou o dia em que procurou o presidente do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), Tenório Telles, o qual abraçou, de imediato, a ideia da família com um carinho comovente, levou até o presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, que recebeu com entusiasmo e abraçou a proposta. “Eu saí de lá tão encantada, que para crer eu dizia para mim: Isso tá acontecendo!”, recordou. Na sequência, ela foi encaminhada até o diretor do museu, Leonardo Novellino, que a recebeu com todo carinho, e aí teve certeza que o sonho estava se concretizando. “Nossa família está super agradecida, muito feliz, porque nós estamos passando um tesouro, que, para nós, tem um valor imensurável. Estamos passando para as mãos da Manauscult, que a gente confia, sabe do trabalho valoroso que faz na cidade”, finalizou a filha de Andrade.
O espaço de memória vai contar a história do artista por diferentes ângulos ressaltou o diretor do Museu da Cidade de Manaus, Leonardo Novellino. “Estamos felizes com esse presente que Manaus está recebendo desse profícuo artista, que produziu bastante e com qualidade, no seu estilo pictórico, sendo fiel a imagem e não idealizando o nosso paisagismo amazônico, ao contrário, reproduziu o que temos de tão lindo e maravilhoso. E especificamente esse lugar será um espaço de memória enquanto cidadão, pai e grande artista”.
Lenda Amazônica
Nascido em 17 de março de 1927, em Manaus, na Santa Casa de Misericórdia, Moacir Andrade passou sua primeira infância com os pais no interior do Estado. A majestosa floresta, os paradisíacos cenários amazônicos e suas gentes devem ter marcado profundamente sua memória afetiva, que teve como marca em sua obra pictórica na longa carreira. No livro biográfico “Moacir Andrade – Uma Lenda Amazônica”, publicado em 2010, o autor José Roberto Girão de Alencar, reproduz um artigo do intelectual Eurico Andrade Alves, publicado no jornal Correio da Feira, no município de mesmo nome, em Portugal, narrando a biografia e feitos à altura e grandeza de um artista que fez a diferença em seu tempo, com sua vida e obra.
O pintor e escritor morreu aos 89 anos, em 27 de julho de 2016, deixando um legado que foi muito além dos milhares de quadros e dezenas de livros, formou gerações de artistas e levou o nome do Amazonas e da Amazônia para muitos países.
As suas obras, retratando a vida do ribeirinho e a Amazônia, são reconhecidas internacionalmente, somando mais de 10 mil telas pintadas e dezenas de livros escritos, dentre eles “Manaus, Ruas, Fachadas e Varandas”, que resgata o patrimônio histórico da cidade.
Artista com presença marcante na vida cultural do Amazonas, Moacir foi um destacado membro do Clube da Madrugada, ajudando no processo de renovação das expressões artísticas locais. Organizou exposições, cursos de pintura para os jovens interessados em aprender a pintar. Essas atividades foram realizadas em espaços públicos, para que a população tivesse acesso. Como escritor, deixou importante contribuição para a literatura regional, com livros de ensaio sobre a cultura amazônica, poesia, memória e artes plásticas.
Sua ligação com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) foi duradoura, e Moacir tem sua trajetória pautada na evolução da Instituição. Em 1935, o artista ingressou aos oito anos de idade na Escola de Aprendizes e Artífices. Na década de 70, tornou-se professor de desenho na então Escola Técnica Federal do Amazonas (Etfam), onde dedicou-se por mais de 20 anos de vida acadêmica. Após se aposentar, Moacir de Andrade sempre esteve presente nas atividades desenvolvidas pelo Ifam, principalmente no Campus Manaus Centro (CMC), chamada carinhosamente por ele de “querida escola”, para a qual o artista plástico doou diversas obras, sendo homenageado em vida com o Museu Moacir Andrade.
Fonte: Manaus Cult
Foto: Divulgação