A disponibilização do antiveneno em localidades mais isoladas impacta diretamente na sobrevida das vítimas
A Unidade de Saúde Indígena do Polo Belém do Solimões (Alto Rio Solimões) foi a primeira do Amazonas a receber soro antiofídico para o manejo adequado destes acidentes com maior rapidez. Na última quinta-feira (17), uma remessa de 350 ampolas de soro foi enviada pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).
A ação é parte do projeto “Descentralização do tratamento anti veneno nos acidentes ofídicos na Amazônia Brasileira: gerando evidências sobre a segurança”, liderado pelo diretor de Ensino e Pesquisa da FMT-HVD e pesquisador do Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema (IPCCB/FMT-HVD), Wuelton Monteiro.
“Os soros que foram enviados servem para o tratamento de acidentes botrópicos, ou seja, os causados por jararacas, que representam 95% de todos os envenenamentos por serpentes registrados no Amazonas. O soro foi doado ao projeto pelo Instituto Butantan e é suficiente para tratar em torno de 70 a 80 pacientes”, explica Monteiro.
Como parte do projeto, anteriormente, foram realizados treinamentos para os profissionais médicos e enfermeiros dos sete Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) do Amazonas, bem como de profissionais de saúde de municípios do interior do Estado. O projeto está implementando um protocolo simplificado de manejo deste tipo de acidente por profissionais locais, possibilitando a diminuição de tempo para a administração de antiveneno, o que impacta diretamente na sobrevida das vítimas.
“Existe o planejamento para que no futuro mais 13 polos também iniciem a realização do tratamento destes pacientes. Deve-se destacar que atualmente este tipo de tratamento está disponível em hospitais na sede dos municípios, o que prejudica o acesso de populações indígenas e ribeirinhas”, salienta o pesquisador.
Os pesquisadores enfrentam desafios relativos à realidade geográfica da região amazônica. De acordo com Monteiro, a demora até a administração do soro é o principal fator de risco para que o acidente se agrave, o que pode levar ao óbito ou a sequelas, como amputação do membro picado. Além disso, outro fator limitante é o armazenamento adequado do produto. “Os soros são produtos imunobiológicos, e precisam ser transportados e armazenados necessariamente numa temperatura de 2 a 8 graus.”
O envio e recebimento das ampolas foi acompanhado por Altair Seabra, professor de Saúde Indígena da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e aluno doutorando do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical (PPGMT/UEA). Seabra ficará na Unidade de Saúde Indígena por uma semana para acompanhar os primeiros tratamentos.
Projeto
Há cerca de 3 anos a equipe de pesquisa se dedica à esta proposta. Antes do início das capacitações dos profissionais de saúde locais, o grupo validou um guia de tratamento dos acidentes ofídicos, com contribuições de especialistas de todo o Brasil.
Cerca de 15 pessoas participam do projeto, entre pesquisadores, alunos de mestrado e doutorado e técnicos, além de gestores do Ministério da Saúde, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP/AM), do Instituto Butantan e da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. O projeto é financiado pelo Ministério da Saúde, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pelo National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos.
Mesmo com o adiamento de algumas atividades, devido a pandemia da covid-19, o grupo trabalha nos próximos passos. “Planejamos estender o atendimento para outras unidades e acompanhar os profissionais, para garantir a qualidade de todo o processo e a segurança dos pacientes, além de estimar a efetividade da intervenção, como redução no tempo até tratamento, o número de complicações e óbitos”, finaliza o pesquisador.
FOTOS: Divulgação e Pedro Bisneto